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Foto do escritorJoana Margarida Tenório

Porque a Orientação Vocacional começa na infância?





A Orientação Vocacional é muito conhecida durante o 9º ano, quando os jovens mudam de ciclo e devem fazer uma escolha acerca do seu futuro.

Mas será que esta deve ser só feita neste momento?

Procuramos nesta reflexão, mostrar que a orientação vocacional é muito mais que escolher uma profissão, até porque hoje em dia o mundo do trabalho está em constante mudança e nós temos que estar preparados e ter a capacidade de nos adaptarmos a essa mudança.

A infância é um período de crescimento e mudança sendo marcado pelo desenvolvimento de numerosas capacidades, tais como o pensamento e raciocínio, a linguagem e comunicação, a criatividade, a emoção, a psicomotricidade ou a relação com o Outro.

Na infância a criança inicia uma participação em diferentes contextos sociais:

  • família;

  • a relação com os pares;

  • a escola;

  • e a comunidade onde está inserida.

Por isso, antes da adolescência, a criança terá, ou pelo menos é expectável que tenha experimentado inúmeros papéis sociais, como o de filho(a), irmão(ã), neto(a), amigo(a), ou aluno(a), tendo-se ajustado a um conjunto de expectativas sociais colocadas pelos contextos onde esses mesmos papéis são desempenhados.

Desde os primeiros anos de vida, a criança recebe informação dos seus contextos mais próximos, de onde se destacam a família, formando gradualmente impressões acerca do mundo do trabalho.

A família é o primeiro modelo a que a criança acede, pelo que a sua atitude face ao comportamento deste, terá um forte impacto em si, no seu desenvolvimento e nas suas futuras escolhas.

O que queres ser quando cresceres? A orientação vocacional começa na infância.

Nos mais diversos contextos sociais, na escola, em sua casa, de familiares ou de amigos, ou até mesmo na sala de espera de uma consulta a criança é confrontada com a questão: o que queres ser quando cresceres?

Inicialmente, as crianças face a estas questões tendem a escolher profissões associadas ao género, estatuto e prestígio e, só mais tarde, é que interferem os fatores psicológicos, direcionados para o self. O autoconceito das crianças é também extremamente importante, sendo constituído por vários elementos como: o género, o estatuto socioeconómico, a inteligência, os interesses profissionais, as competências e os valores. Particularmente relevantes para a tomada de decisão vocacional, estes elementos vão sendo incorporados no autoconceito, em diferentes etapas do desenvolvimento cognitivo da criança.

Existem quatro etapas no desenvolvimento do autoconceito;

  • Orientação para o tamanho e poder (dos 3 aos 5 anos).

O pensamento das crianças de três anos caracteriza-se por ser egocêntrico, mágico, com pouca capacidade de distinguir o passado, presente e futuro. Os desejos das crianças desta faixa etária põem em evidência o pensamento mágico que as caracterizam, desejando ser por exemplos princesas ou príncipes. Aos quatro e cinco anos as crianças já referem atividades relacionadas com tarefas dos adultos: ex. limpar a casa; ser médico, entre outras. O pensamento concreto que caracteriza esta faixa etária faz com que o tamanho seja utilizado para definir poder.

  • Orientação para os papéis sexuais (6-8 anos de idade)

Nesta etapa, as preferências profissionais refletem a preocupação que as crianças sentem em fazer aquilo que é apropriado para o seu próprio género. Rapazes e raparigas tendem a mostrar concordância sobre quais os empregos que cada sexo deve ter. As escolhas mais populares entre as raparigas tendem a ser as menos populares entre os rapazes e vice-versa. As profissões mais e menos preferidas revelam que as crianças circunscreveram as suas opções de acordo com o seu tipo sexual. Assim, as profissões que são percecionadas como inapropriadas para cada sexo tendem a ser fortemente rejeitadas. No final do ensino secundário, as preferências continuam ainda a ser muito estereotipadas.

  • Orientação para a avaliação social (9-13 anos de idade)

Nesta fase começa-se a tomar consciência que existem profissões que são mais valorizadas do que outras. Para além do reconhecimento do prestígio de certas profissões, as crianças/jovens começam a ter a noção da existência de diferentes classes sociais e de diferentes tipos de capacidades entre as pessoas. No início da etapa 3, as aspirações profissionais expressas pelas crianças revelam que o nível de prestígio é ainda um fator pouco relevante. Por exemplo, os rapazes continuam a mostrar interesse pela profissão de motorista, atleta ou polícia, as raparigas pela profissão de enfermeira ou professora. Com o avançar da idade, as crianças começam a conhecer novas profissões e a saber julgá-las de acordo com o seu nível de prestígio. Os empregos de baixo prestígio não voltam a ser expressos.

  • Orientação para o interno, Self único (14 ou + anos de idade)

O aumento da capacidade para lidar com conceitos complexos e abstratos, a pressão emocional da adolescência e o desenvolvimento de uma visão mais complexa e integrada de si próprio e da realidade, faz com que as preocupações comecem a estar centradas nos sentimentos pessoais, interesses e valores dos adolescentes. Nesta fase do desenvolvimento vocacional, as preferências profissionais refletem a compatibilidade com as capacidades e interesses particulares.

Porque a Orientação Vocacional começa na infância? O papel da família e o papel da escola

É fundamental o papel da família e o da escola no desenvolvimento vocacional das crianças. O da escola/jardim de Infância, particularmente nos dias de hoje, dado que este é o espaço no qual as crianças passam a maior parte do seu tempo, assumindo os educadores e professores um papel relevante na vida destas crianças/jovens, nomeadamente na promoção do desenvolvimento vocacional.

Na escola, elas têm a oportunidade para descobrir quem são e o que gostam, com o que se identificam.

Deste modo, a escola deve oferecer às crianças e jovens a oportunidade de ir experimentando diversos papeis promovendo simultaneamente um autoconhecimento realista, das suas fraquezas e potencialidades que lhes é, e será útil quer enquanto estudantes, quer enquanto futuros trabalhadores, pois mais tarde estarão inseridos num mundo do trabalho duro e exigente, nem sempre justo.

É importante reforçar a importância do desenvolvimento vocacional desde cedo, mas que o objetivo na não é (NUNCA) avaliar os interesses das crianças. É sim importante que a escola possibilite às crianças experimentar diversos papéis sem juízos nem preconceitos.

A escola pode atuar de inúmeras formas, entre as quais:

  • Promover sentimentos/crenças de autoeficácia – é importante a criança confiar em si, nas suas capacidades;

  • Acreditar e sentir que tem liberdade de escolha, não existem opções vedadas aos seus interesses;

  • Desenvolver condições que promovam o autoconceito vocacional;

  • Dinamizar atividades promotoras de exploração de diversos percursos, oportunidades e interesses.

Na sala de aula e em casa, é importante:

  • Dar a conhecer às crianças várias profissões perguntando-lhes o que é que elas conhecem dessa profissão, se conhecem alguém que tenha também essa profissão (…);

  • O que é que elas mais gostam de fazer;

  • Quem é que elas mais admiram e porquê;

  • Perceber quais as crenças associadas a uma determinada profissão perguntando-lhes, por exemplo quem é que costuma desempenhar as funções inerentes à mesma;

  • Perguntar à criança, quais os diferentes papeis em casa- quem é que faz o quê;

  • Ter ao dispor na sala diferentes brinquedos permitindo que cada criança explore o que quiser: não há restrições em um rapaz brincar às casinhas e uma menina com carrinhos;

  • Convidar os pais a ir à escola falar sobre o seu trabalho;

  • Convidar à escolar diversos profissionais com sucesso, por exemplo: mulher bombeira, homem

  • Promover visitas de estudo a diferentes locais de trabalho;

  • Não limitar as crianças a tarefas “típicas” de rapaz /rapariga.

  • Alertar os pais para a importância dos papeis em casa, dado que estes são modelos importantes nas crianças: ex: só a mãe cozinha, limpa a casa: a criança acaba por associar estas tarefas ao sexo feminino.

Concluindo, há que permitir às crianças explorarem diversos papeis não impondo ou orientando para atividades típicas de cada género.

Pais, professores e educadores, devem ser sensíveis aos interesses de cada criança, que é única respeitando sempre as decisões.

Os primeiros anos são um período crucial para a formação de ideias e para as perceções sobre o self e sobre o mundo. As experiências de exploração ajudam as crianças a conhecerem-se a si próprias, a tomarem consciência das suas capacidades e das suas aptidões em relação ao mundo do trabalho, pelo que se reforça a importância da escola e família nesta fase.

Enquanto pais, professores ou mesmo enquanto sociedade em geral devemos permitir às crianças crescer e experimentar os mais diversos papeis sociais, desvalorizando a ideia que há profissões típicas de cada género e ficar preocupados porque um menino brinca com bonecas e a menina com carrinhos, como se isso fosse uma sentença do seu futuro.

Deixar as nossas crianças revelarem o seu self sem preconceitos é um dos maiores presentes que lhes podemos oferecer e que as ajudará a ser felizes no presente, e no futuro serem homens e mulheres realizados, felizes por puderem fazer as suas escolhas e expressarem-se congruentemente face a quem são.

Não é isso que importa no final?

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